Qualquer coisa manda um zap
abril 07, 2022Uma frase que engole a outra, depois outra e outra. Um depósito. Se entulham ali os amontoados de coisas e ninguém retorna para buscar a resposta. Só existe o grito, nunca o eco. Umbigo, umbigo meu... há nesse mundo alguém mais importante do que eu? O relato de si, aos montes. Mas a percepção do outro... ai, preguiça. É quando der. Quando eu tiver um tempinho, leio. Quando eu precisar, retorno. Se eu necessitar, volto.
Passam dias, semanas. As conversas murcham, o sentido se perde. Já não há fio pra puxar. O único a se fazer é amontoar mais palavras sem que as de antes tivessem a chance de serem lidas. Dia desses me bateu saudade das horas e horas ao telefone com a melhor amiga depois das aulas no colégio. Havia interesse uma pela outra. Interesse! Que palavra bonita quando bem empregada, sem ofender.
Recordo as delícias daquelas tardes inteiras tagarelando. Ela numa cama e eu na outra, como se fossemos dois países diferentes dispostos a comunicar e contar tudo de si. Dos territórios e das tantas gentes que nos habitavam. Descobrir o outro lado era mágico! Hoje tá um pouco de silêncio. Buzinadas em portões fechados, não aparece ninguém pra soltar um "arrudeia, entra". Ninguém tem a gentileza de avisar que "quando puder, respondo". Ou a honestidade mais básica do "não quero, não posso".
O vazio das tantas palavras, os poucos ouvidos. Nenhum barco se aproximando pra chegar na ilha e eu fico daqui só vendo o mar doido. Na certeza de que algumas palavras não serão lidas, coloco tudo muito cru nas mensagens que vão dentro das garrafas de vidro atiradas na água. Voltei a fazer o que me tirava a sensação de naufrágio quando era aborrescente: escrevo. Por mim, pra mim, comigo. Talvez eu seja a única que realmente precise receber a mensagem.
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